Sábado, 10 de Outubro de 2009

que nos olha


 Colette

 

Um gato é aquele ser impassível que, sem cerimónias, pode instalar-se – a afirmar direitos e intimidades – exactamente sobre o caderno onde o dono está a escrever; mas é também aquele que é capaz de, distraidamente, se passear por cima de montes de papéis espalhados sobre uma secretária sem que o mais pequeno desvio se note depois da sua passagem. (...)

 

O gato é também aquele ser que nos olha com intensidade mas sem expressão, de forma que nas suas pupilas, mais ou menos dilatadas, apenas podemos descobrir um inteligente espelho de nós próprios e do mundo por trás de nós, ao mesmo tempo que no seu brilho encontramos a lampadazinha de que fala Adams, que devassa os caminhos para os tesouros insuspeitados existentes no nosso íntimo.

 

Maria Cândida Zamith Silva, A Figura do Gato como Capa para Considerações mais Profundas: Lope de Vega, Hoffman, T.S. Eliot

publicado por arcadajade às 09:22
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Domingo, 28 de Março de 2004

Restituiu-lhe a noite

O odor a gerânios depois da rega fez parar Alain com a garganta contraída de emoção. Inclinou-se, abriu, às apalpadelas, o cesto, e devolveu a gata à liberdade. - Saha, eis o nosso jardim... Sentiu-a deslizar para fora do cesto e, em nome da imensa ternura que tinha por ela, deixou-a ir, apenas entregue a si própria. Restituiu-lhe, dedicou-lhe a noite, a liberdade, a terra permeável e doce, os insectos que velavam, e os pássaros que continuavam a dormir.

 

 

Colette, Saha, a Gata, Livro-Carta, Colares Editora

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publicado por arcadajade às 02:00
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