foto de Alex Howitt
O gato está a ficar velho. Até há poucos meses
até a própria sombra
lhe parecia uma coisa do outro mundo. Os seus bigodes eléctricos
detectavam tudo: escaravelho,
mosca,
mata-moscas,
tudo tinha um valor específico. Agora vive
agachado ao borralho. Que o cão o fareje
ou os ratos lhe mordam a cauda
são factos sem importância nenhuma para ele. O mundo passa sem pena nem glória
Através dos seus olhos semicerrados. Sabedoria?
Misticismo?
Nirvana?
Tudo isso certamente
e sobretudo
tempo decorrido. O dorso branco de cinza
indica-nos que ele é um gato
que se encontra para lá do bem e do mal.
Nicanor Parra, tradução da arcadajade