Os gatos de Lisboa
Os gatos de Lisboa são altos,
esguios bem falantes.
Sabem quase tudo de história e
um pouco de geografia.
De noite caçam gatas
e de dia companhia
entre o lixo da cidade.
Não são assim tão pardos
como dizem as histórias.
Pelo contrário, andam
engravatadinhos, ar galante e
de quem não parte uma unha.
Se lhes falarem em
sardinhas levantam
altivos os bigodes -
não são desses gatos
farruscos aos pés
das varinas. Têm classe!
Mas mostrem-lhes um
banco de jardim ao sol.
E miau.
cidade à parte
os gatos da cidade de lisboa
são raros de encontrar, discretos
milagres do langor quotidiano,
atentos na sua calma
à alheia agitação citadina.
Interessam-lhes as árvores
os pássaros e às vezes
olham os rostos das pessoas.
alguns deixam-se aproximar
gostam até de nós, de nós
que gostamos deles
e queríamos encontrá-los
mais vezes
pelos passeios e jardins
mas eles só se deixam
encontrar por acaso.
Micro, o belo tigrado laranja de olho azul, era o pai da Jade. Cumpriu o seu tempo. Foi-se com a lua cheia.
NASCEMOS PARA O SONO
Nascemos para o sono,
nascemos para o sonho.
Não foi para viver que viemos sobre a terra.
Breve apenas seremos erva que reverdece:
verdes os corações e as pétalas estendidas.
Porque o corpo é uma flor muito fresca e mortal.
Poesia Mexicana do Ciclo Nauatle (mudada para o português por Herberto Helder em Poesia Toda, Assírio & Alvim, Lisboa, 1990)
Uma prenda, vinda das margens do Adriático, que a Arca da Jade muito apreciou. Obrigada, M.
O Tico:
O Teco:
O ladrão de guardanapos:
O almoço foi tranquilo. Onde paravam os gatos?
A cadeira que mudou de dono:
Em Verona- fotografia de Sete-Sóis
Com a minha gratidão a Tecum. E celebrando - com um mês de atraso - o 2º aniversário desta Arca.
para a Soledade Santos
um gato deixou o seu sorriso marcado no vidro da janela. o seu miar
ainda se ouve. no quintal. junto à árvore onde costumava afiar as unhas.
era um gato malhado. gostava de andar à chuva. um gato simples. puro.
como outro gato qualquer.
Manuel A. Domingos, em Limites de Luz
Pintura de Ricardo Garcia - acrílico e óleo sobre tela, Junho de 2005.
Gentilmente cedida pelo pintor, cujo Capitão Amendoim é amigo desta Jade e de um certo Nocturno com Gatos.
era um gato no telhado
aqueles olhos que luziam
o fantasma no meu quarto
tênue sombra enluarada
sombra de silêncio
eco da madrugada
era um gato e caminhava
atento a tudo que havia
a um insone na janela
que à sua sombra acudia
lentamente foi embora
lentamente raia o dia
era um gato e um poeta
um do outro estranhos
um do outro fantasmas
um do outro silêncios
aquele agora quer cama
este agora quer braços