Vi, nos olhos do gato, a sua ira.
Crispadas,
suas mãos promoviam
o paradoxo do afago.
Retesados,
os músculos do felino
pronto para a fuga
denunciavam seu ânimo.
Como o bicho,
submeti-me às suas garras,
submisso que sou, por livre vontade,
para meu gozo perigoso,
aos seus desejos.
Vejo o seu sorriso vitorioso.
Compraz-me saber que, derrotado,
terei em troca o prazer:
prêmio de consolação, mais valioso
que o do orgulho da vitória.
Prefiro o seu carinho à glória
e o seu amuo.
Rendo-me e rio,
um riso íntimo
e silencioso
que a expressão não denuncie.
Fred Matos, Anomalias, Editora Kelps, Goiânia, 2002