pintura de Jean-Jacques Bachelier
Dá-se ares de marquês,
seu miar não quer conversa;
é gato, mas não maltês
o altivo bicho persa.
Não atende a quem o chama,
nem que vista uniforme;
de dia só quer a cama
onde à noite a dona dorme.
É em tom de ameaça
de audaz aventureiro,
que D. Fuas vai à caça
em noites de nevoeiro.
Parece um rei embuçado
com seu ar misterioso;
só falta cantar o fado,
a D. Fuas, o Formoso.
António José Queirós
Olympia (1863), pintura de Edouard Manet
O gato preto, símbolo da superstição e da sensualidade, posicionado ao lado da criada, denuncia estereótipos da época acerca da sexualidade e da feminilidade negra.
Sobre esta bela pintura, que na época causou escândalo, mais aqui e aqui, por exemplo.
Emile Chambon, La clé des songes
A MEIO DE UM POEMA DE RITSOS
Aqui até os gatos são diferentes,
bravos, pacientes, mudos,
não esfregam o seu focinho no nosso cotovelo,
ficam-estáticos nos nossos joelhos e estudam
estudam a morte,
estudam a tristeza,
estudam a vingança, a determinação,
estudam o silêncio e o amor,
estudam a vida dentro dos nossos olhos,
os não-acarinhados,
os bravos gatos
os silentes gatos de Macrónissos.
E esta lua de Agosto que pende sobre nós
é como a grande palavra que não foi dita
marmorificada na garganta da noite.
Giánnis Ritsos, tradução de Custódio Magueijo em Antologia, Ed. Fora do Texto, 1993
Renata Moise
No jardim todo branco
vem defecar
um gato vadio
Masaoka Shiki, em As Cigarras Vão Morrer, Haiku, Uma Antologia, selecção, versões e notas de Manuel Silva-Terra, 2008